A constituição axiológica de anúncios de propaganda governamental de combate à violência contra a mulher no cronotopo pandêmico
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Data
2022-06-30
Autores
Orientadores
Programa
PPGSeD
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Editor
Universidade Estadual do Paraná
Resumo
A problemática da violência doméstica contra a mulher é veemente e grave na sociedade brasileira, o que demanda uma compreensão sócio-histórica, cultural e ideológica de sua perduração e intensificação, mesmo diante da implementação de políticas públicas e das lutas travadas em torno da reconfiguração de papeis sociais de gênero em todos os âmbitos da organização social no curso da história. Assim, o objetivo desta dissertação é analisar a constituição axiológica e ideológica de dois anúncios de propaganda governamental de combate à violência doméstica contra a mulher, pelo incentivo a denúncias pelo ligue 180, no contexto da pandemia da covid-19. Ambos são de autoria institucional encomendada pelo governo Federal, representado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos direitos Humanos, em parceria com outras instituições. Um dos enunciados foi produzido no ano de 2020, e o outro no ano de 2021, como resposta governamental aos reclames de organizações sociais nacionais e internacionais à problemática do aumento da violência doméstica contra a mulher no cronotopo da pandemia da covid-19. Trata-se de pesquisa interdisciplinar, qualitativa e interpretativa que se vale das contribuições dos estudos feministas, dos estudos de gênero, da história das mulheres, da publicidade e propaganda e do aparato teórico-metodológico analítico do dialogismo do Círculo de Bakhtin. Nesse ínterim, e a partir dos pressupostos teórico-metodológicos elencados, problematizamos o conteúdo ideológico e a efetividade dos enunciados eleitos para análise, a considerar tanto a sua dimensão extralinguística de produção e recepção social quanto a sua dimensão linguístico-semiótica. Os resultados indicam que os anúncios de combate à violência contra a mulher e incentivo ao Ligue 180 são restritivos em sua composição axiológica e ideológica, configuram e reforçam imagens estereotipadas de mulheres agredidas e de homens agressores em relações sociais assimétricas. No anúncio de propaganda governamental do ano de 2020 são discursivizadas imagens de uma mulher branca, resignada, submissa, de classe média alta, amedrontada, coagida dentro do lar, impotente à denúncia no isolamento social e que oculta as agressões sofridas. Já sobre o agressor, discursiviza-se a imagem do homem detentor de poder dentro do lar, agressivo, vigilante, coercitivo. No anúncio de propaganda governamental do ano de 2021, são discursivizadas duas imagens de mulher, uma branca e outra negra. As axiologias mobilizadas na representação de ambas são diferentes. Na configuração da mulher branca investe-se em axiologias que constituem sua resignação, santidade, sofrimento, submissão, vergonha, dor, enquanto para a representar a mulher negra são mobilizadas axiologias que naturalizam sua condição de agredida. Por outro lado, são discursivizadas imagens de homens agressores que oscilam em suas práticas de agredir e demonstrar amor, em círculo pernicioso de violência doméstica física e psicológica que necessita ser rompido.
Descrição
Palavras-chave
Interdisciplinaridade. Dialogismo. Violência doméstica contra a mulher. Anúncios de propaganda governamental. Ligue 180. Axiologias sociais.