Navegando por Autor "SOUZA, Andreia Aparecida de"
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Item Análise Dialógica dos Discursos de Réus do Crime de Feminicídio no Tribunal do Júri(Universidade Estadual do Paraná, 2022-05-31) SOUZA, Andreia Aparecida de; POLATO, Adriana Delmira Mendes; http://lattes.cnpq.br/0099891414348765; http://lattes.cnpq.br/6831645881640927; POLATO, Adriana Delmira Mendes; http://lattes.cnpq.br/0099891414348765; FRANÇA, Fabiane Freire; http://lattes.cnpq.br/8009677334152001; OLIVEIRA, Neil Armstrong Franco de; PRADO, Robervani Pierin doO presente estudo, ancorado em uma abordagem interdisciplinar e dialógica, tem como objetivo compreender como os discursos mobilizados em depoimentos de réus assassinos confessos ou acusados do crime de feminicídio no Tribunal do Júri se constituem axiológica e ideologicamente para a isenção total ou atenuação da culpa. Assim, analisa como se constroem discursivamente imagens de mulheres e de homens em relações sociais assimétricas, nas quais a prática da violência contra a mulher e sua expressão máxima no crime de feminicídio subsistem historicamente. Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e interpretativista, que coaduna a abordagem interdisciplinar ampla do tema no tempo histórico e as orientações teórico-metodológicas da concepção sociológica de linguagem do Círculo de Bakhtin, sob viés da Análise Dialógica do Discurso (ADD), perspectiva analítico-interpretativa adotada. Três depoimentos de réus confessos ou acusados do crime de feminicídio no tribunal do Júri, colhidos entre os anos de 2018 e 2020, depois da publicação da Lei Maria da Penha e da Lei do feminicídio, são tomados como unidades de análise e compreendidos em seu teor valorativo de documentos. Os resultados indicam que: a) no cronotopo do Júri, a partir do grande cronotopo social, os discursos dos réus assassinos confessos ou acusados manifestam-se sob um tom defensivo-vitimista-acusativo. Já na esfera ideológica da comunicação jurídica, os discursos manifestam-se híbridos, a coadunar discursos intimo-cotidianos, morais e legais. Em adição, na situação específica de interação no Tribunal do Júri, que forma a atmosfera axiológica do depoimento, os discursos organizam-se profórmico-hierárquico-bivocais e perpassados de relações dialógicas com leis, o que se comprova no estilo verbal dos depoimentos, construídos a partir da introdução valorada das vozes das vítimas assassinadas, das vozes dos assassinos, para compartilhamento de constructos socio-históricos, culturais e ideológicos machistas e ainda vigentes numa sociedade patriarcal, os quais se concretizam em axiologias compartilhadas na materialidade dos enunciados, mobilizadas para convencimento dos interlocutores juiz, promotor, advogados e componentes do júri, como via legítima à isenção ou atenuação da pena. No conteúdo temático, reflexo do cronotopo, os discursos dos réus assassinos confessos ou acusados do crime de feminicídio se constituem em tensões fronteiriças entre a construção de imagens negativas da mulher assassinada e de imagens dos réus como vítimas interpeladas a agir, em razão dos comportamentos adotados ou atos praticados pela mulher. Assim, estilístico-composionalmente, e axiológica e ideologicamente são discursivizadas: c) imagens de mulheres ora traidoras, ora enganadoras, ora ciumentas, histéricas, infantis, desobedientes, provocativas, desajustadas, agressivas e outras. De si próprios, os assassinos confessos ou acusados discursivizam imagens de um homem vitimado, psicologicamente abalado, nervoso, provocado, descontrolado, inconsciente, sem intenção de matar, interpelado, esquecido dos fatos quando conveniente ao não comprometimento em qualificadoras e arrependido. O trabalho, assim, prospecta que a Análise Dialógica do Discurso (ADD) corrobora a compreensão dos discursos dos reús assassinos confessos ou acusados, para que se refutem valores que subsidiam seus atos, os quais se apoiam no histórico de desigualdades de gênero, do machismo e das assimetrias que se estabelecem na organização social patriarcal, a qual favorece todas as formas de violência contra a mulher e sua expressão letal no feminicídio.